Assustadora a verdade sobre o acidente com a composição da
MRS Logística S/A na Serra da Arantina, no Túnel dos Cabritos, na linha férrea
ramal Minas Gerais, que corta o município de Arantina.
Duas locomotivas à frente de uma composição com 131 vagões
carregados com minério de ferro, pesando, aproximadamente, 12 mil toneladas.
Atrás, uma locomotiva que auxilia na condução da carga e é controlada pelo
maquinista responsável pela composição que transporta o minério de ferro de
Águas Claras, Minas Gerais, para a Ilha de Guaíba, na Costa Verde fluminense,
passando por Barra do Piraí.
Após passar pelo Túnel dos Cabritos o maquinista cumpriu o
procedimento da empresa parando a composição no semáforo vermelho para efetuar
a manobra chamada locotrol. Esta manobra consiste em retirar ou acoplar
locomotivas para a condução adequada na descida da serra sentido Volta Redonda.
Então o maquinista prosseguiu o procedimento determinado
pela MRS Logística, que era:
Desengatar as duas locomotivas da composição com 131 vagões mais
a locomotiva da traseira, seguir até o pátio na cidade de Bom Jardim para
buscar mais duas locomotivas que auxiliariam na descida da Serra de Arantina.
Antes de desengatar as duas locomotivas da dianteira o
maquinista configurou por controle remoto a condição de “espera” no computador
de bordo da locomotiva da traseira. Esta condição de “espera” consiste em
enviar para a locomotiva da traseira, que permanece engatada aos 131 vagões, um
sinal via satélite que aciona o sistema para controlar os freios e manter a
força motora necessária para paralisar toda a composição até que o maquinista
retorne com quatro locomotivas de Bom Jardim para finalizar a manobra e descer
a serra com segurança.
Dentro do túnel dos cabritos existem fibras óticas que
transmitem os sinais via satélite, só, que, devido às chamadas zonas mortas, o
sinal transmitido corretamente pelo maquinista para deixar a composição parada
naquele local não foi recebido pelo computador de bordo da locomotiva
controlada remotamente.
Sem condutor a locomotiva e os 131 vagões carregados com
minério de ferro começaram a descer a Serra de Arantina aumentando gradativamente
a velocidade.
Uma segunda composição formada por duas locomotivas e mais
134 vagões carregados de minério de ferro, que era conduzida também por somente
um maquinista, manobrava no trecho para repetir o mesmo procedimento chamado
locotrol.
Uma terceira composição também com um maquinista no comando
de uma locomotiva e 134 vagões aguardava o mesmo procedimento com a finalidade
descer a Serra de Arantina.
Com exclusividade ouçam abaixo o desespero no Centro de Controle Operacional da MRS
Logística na cidade de Juiz de Fora, onde os operadores conversam com os
maquinistas das três composições sobre o iminente acidente que aconteceria na
descida da Serra de Arantina. Percebam que a preocupação com as locomotivas
superou a preocupação com a vida dos maquinistas após a colisão que derramou
grande quantidade de óleo diesel e minério de ferro na natureza.
No áudio exclusivo do Blog do Jeff Castro é possível ouvir quando o maquinista da terceira
composição avisa que vai pular do trem em movimento e em rota de colisão com a
composição desgovernada. Pode-se ouvir também o maquinista que fez a manobra
locotrol no semáforo próximo ao túnel dos Cabritos dizer: “se tivesse com o
procedimento antigo de recuar pra fora e parar nada disso tinha acontecido, já
estava escrito que isso ia acontecer”.
O que seria este "recuar pra fora" no áudio do maquinista?
O antigo procedimento retirava a composição inteira do túnel
dos Cabritos para realizar a manobra locotrol.
ATUALIZANDO COM POSTAGEM DE VÍDEO - 09/04/2014 - 23:32
Cópia de segurança feita porque eu suspeitava que o autor do post sobre o acidente no YouTube iria apagar o vídeo de seu mural. A qualidade do vídeo não é boa mas serve para garantir a matéria publicada no Blog do Jeff Castro.
CARGA HORÁRIA EXCESSIVA, FALHA EM PROCEDIMENTO, AUMENTO DOS
LUCROS E DESPREZO PELA VIDA COMO PRINCIPAIS CAUSAS DO ACIDENTE NA SERRA DE
ARANTINA
Vamos à rotina do maquinista condutor da composição que
provocou o acidente.
No dia 1 de abril ele se apresentou por volta das 6 horas no
pátio de Bom Jardim (MG). Passou pelo procedimento do bafômetro e ficou cerca
de 3 horas aguardando uma composição para cumprir 9 horas de trabalho até o
pátio P2-14, onde um veículo da Vix Locadora, empresa terceirizada pela MRS, o
levou até Volta Redonda, cerca de uma hora de viagem.
Às 19 horas, o maquinista, que tinha cumprido 13 horas de
trabalho, seguiu para um hotel na
avenida Amaral Peixoto, em Volta Redonda.
Na manhã seguinte o maquinista se apresentou às 5 horas, dia
2 de abril, no pátio da MRS na cidade do aço para conduzir uma locomotiva com
76 vagões com cargas diversas até a cidade de Barbacena (MG).
Por volta das 16 horas o maquinista chegou em Barbacena e
foi levado por um veículo da Vix até a cidade de Bom Jardim, chegando às 17h30
em sua residência.
No dia 3 o maquinista se apresentou novamente as 8h30 para
conduzir a composição que provocou o acidente na Serra de Arantina por volta de
14 horas.
Se já não bastasse o absurdo da monocondução - segundo a MRS
Logística S/A a monocondução é garantida pelo chamado “homem morto”, botão que
tem que ser acionado de um minuto e trinta segundos em um minuto e trinta
segundos pelo maquinista - fatores como a
carga horária excessiva e a falha no procedimento locotrol com a clara finalidade de acelerar o tráfego
de cargas, explorando ao máximo os maquinistas para diminuir o tempo nos
intervalos das composições aumentando astronomicamente os ganhos, são, aos meus
olhos, as razões da composição desgovernada na Serra de Arantina.
Como Barra do Piraí é cortada pela linha férrea e é também “bombardeada”
pelas notícias sobre a redução do tempo entre as composições de carga que
cortam a cidade, fica para nós cidadãos barrenses o grande alerta.
Há cerca de 15 dias uma outra falha em sistema da MRS
Logística S/A, conhecido como CBTC, travou o sistema paralisando uma composição
na passagem de nível da Rua Aureliano Garcia, em Barra do Piraí.
Que os promotores do Ministério Público de Direitos Difusos
e do Trabalho adotem providências porque a MRS Logística S/A está tentando abafar o
caso Serra de Arantina, fato, que não acontecerá, pois, graças a minha
credibilidade junto a população e aos funcionários da empresa, ele chegou até
aqui.
Vejam as fotografias do acidente