Igreja enviará relatórios à congregação na Santa Sé
(matéria publicada no A VOZ DA CIDADE - quarta-feira (05/05/2010)
Peter Holzwarth conta com orgulho a história do irmão (detalhe) que pode virar santo da Igreja Católica (foto: Jeff Castro)
A Belina com dezenas de perfurações à bala (foto: reprodução)
Os corpos dos detentos ficaram expostos na calçada em frente a cadeia pública de Jacareí (foto: reprodução)
Franz entrava no veículo acompanhado pelos detentos em fuga (foto: reprodução)
Os barrenses católicos estão confiantes na canonização de Franz de Castro Holzwarth, falecido em 14 de fevereiro de 1981 quando mediava uma rebelião de presos na cadeia pública da cidade de Jacareí (SP). O processo de canonização do já reconhecido como Servo de Deus pela Igreja Católica, foi aberto em março de 2009 pela Diocese de São José dos Campos. O processo está sendo estudado pela Igreja Católica, que após constatar a fama de santidade e martírio de Franz de Castro Holzwarth enviará relatórios da Congregação para a Causa dos Santos, na Santa Sé, em Roma, onde será decidida canonização do filho ilustre de Barra do Piraí.
Filho de Franz Holzwarth (falecido em 1996) e Dinorah de Castro Holzwarth, 90 anos, e irmão de Heloísa de Castro Holzwarth da Rocha (falecida em 1974), Sonia de Castro Holzwarth (63), Peter Paulo de Castro Holzwarth (62) e Ruth de Castro Holzwarth (60), Franz de Castro Holzwarth, nascido em Barra do Piraí no dia 18 de maio de 1942, ingressou aos 21 anos na Faculdade de Direito do Vale do Paraíba, em São José dos Campos (SP), onde concluiu o curso sendo inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em 1968.
Católico fervoroso, o advogado Franz de Castro Holzwarth nunca abandonou sua vocação sacerdotal dedicando-se ativamente aos programas e projetos da Igreja Católica com participação na criação da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC), que hoje atua junto a Pastoral Carcerária.
A expectativa é grande no município onde ainda residem a mãe e os irmãos de Franz. Peter Paulo de Castro Holzwarth disse à equipe do A VOZ DA CIDADE acreditar piamente na canonização de Franz Holzwarth, que para ele era possuidor de fé inabalável, forte vocação para a vida sacerdotal e disposição incansável na defesa das causas dos excluídos. “Lembro-me quando Franz vinha passar as festas de final de ano sempre acompanhado por um detento sob sua guarda”, conta Peter Holzwarth emocionado e orgulhoso com a possibilidade de ter um santo da igreja católica em sua família.
A fé dos irmãos se torna ainda maior quando constatam que sem qualquer pedido ou articulação dos familiares e amigos, o nome do advogado nunca foi esquecido nesses trinta anos após a sua morte. “Realmente tem a mão de Deus sobre sua vida e morte. São muitas as manifestações em apoio à canonização de Franz. É algo que me deixa realmente muito emocionado. Com fé em Deus Franz será o primeiro barrense canonizado pela Igreja Católica por sua brilhante história de vida dedicada a sua profissão e sua fé.”, argumenta.
O advogado Mario Ottoboni publicou em 1983 o livro O mártir do cárcere, pelas Edições Paulinas, e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) instituiu em 1984 o prêmio Franz de Castro Holzwarth de Direitos Humanos, que já agraciou personalidades como Ulisses Guimarães (1987) e Herbert de Souza, o Betinho (1992).
REBELIÃO E EXECUÇÃO
Na tarde de 14 de fevereiro de 1981 o então delegado de São José dos Campos (SP), João Chrysóstomo de Oliveira, solicitou o apoio da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC) na mediação com os detentos rebelados na cadeia pública da cidade vizinha de Jacareí (SP), para onde seguiram o presidente e vice-presidente da associação, respectivamente, os advogados Mario Ottoboni e Franz de Castro Holzwarth.
Com as negociações em condução pelo juiz corregedor Orlando Pistorezzi, os advogados se apresentaram como voluntários para seguir em dois carros juntos aos rebelados e três reféns – carcereiro Adolfo, escrivão José Benedito Aparecido e um policial militar que teve sua arma roubada pelos detentos – até um local seguro onde todos seriam libertados e os detentos poderiam empreender fuga.
O primeiro carro, um Galaxie preto da prefeitura de São José dos Campos, partiu sendo dirigido por Ottoboni. O advogado foi libertado quilômetros depois na Rodovia Presidente Dutra quando os sete detentos se dividiram após roubar outro veículo. O refém José Benedito Aparecido seguiu com parte do bando sendo libertado mais tarde na localidade conhecida como Rio Comprido.
O segundo carro, uma Belina placa XI 7752 foi entregue aos rebelados por volta das 16 horas daquela tarde de sábado. Quando Franz Holzwarth, o refém policial militar e mais cinco detentos seguiram em direção ao veículo cumprindo a segunda parte do acordo, segundo matérias em jornais que fizeram a cobertura da rebelião, os policiais militares exigiram a libertação do refém provocando o clima tenso que culminou na troca de tiros que vitimou Franz Holzwarth, o capitão PM Antônio de Oliveira e os cinco detentos que tentavam a fuga. Mais treze pessoas foram atingidas por balas perdidas, dentre elas oito populares que assistiam ao desfecho do caso.
O advogado Franz de Castro Holzwarth foi sepultado no cemitério Santa Rosa em Barra do Piraí sob forte comoção popular.